Diagnosticar e tratar crianças com câncer requer persistência e determinação. Apesar dos feriados, aniversários e outros eventos importantes, o tratamento do câncer pediátrico geralmente continua sem interrupção para fornecer à criança a melhor oportunidade de sobreviver. Nos últimos meses, enfrentamos um novo desafio: a pandemia do coronavírus (COVID-19). Na África Subsaariana, a pandemia introduziu complicações sem precedentes, escassez de suprimentos médicos, restrições de viagens de pacientes e realocação de recursos para atender às necessidades urgentes dos pacientes com coronavírus, para citar algumas.
Não há nada mais inspirador do que a tremenda resiliência de uma criança.
Para ser tratada de câncer, as crianças devem ter seu sintomas apropriadamente reconhecidos. As famílias devem navegar nos sistemas médicos para receber diagnósticos complexos. Só então podem começar os tratamentos intensivos por meio de extensos recursos do sistema de saúde. Também existem desafios diários para os profissionais médicos. Os pacientes apresentam-se em estágios muito avançados da doença. A falta de produtos sanguíneos que salvam vidas e de medicamentos essenciais complicam ainda mais os cuidados. A carga adicional introduzida pela COVID-19 aumenta profundamente as circunstâncias já desafiadoras.
Junto com outros membros da equipe de Excelência em Hematologia-Oncologia Pediátrica (Global Hematology-Oncology Pediatric Excellence - Global HOPE), eu me concentro na construção de capacidade de longo prazo para tratar e melhorar drasticamente o prognóstico para crianças com câncer e doenças do sangue na África Subsaariana. Nossa visão é garantir que essas crianças recebam as terapias mais eficazes e de última geração disponíveis e, em última instância, tenham resultados de tratamento comparáveis aos de países de alta renda, como os Estados Unidos e a Austrália.
Recentemente, juntei-me a outros diretores médicos da Global HOPE de Malaui e Uganda para oferecer um breve comentário sobre desafios e oportunidades criadas pela pandemia que poderiam ser aproveitadas para melhorar os serviços para crianças. Embora seja natural insistir no impacto negativo que a COVID-19 teve nos programas da Global HOPE e em todos os aspectos da vida diária, prefiro me concentrar no fato de que, quando confrontados com um desafio assustador, as pessoas estão à altura da ocasião.
Em Botswana, o tamanho do Texas ou da França, e onde sou diretor médico do programa da Global HOPE, quase todas as crianças em tratamento de câncer conseguiram cumprir o cronograma, apesar do lockdown de sete semanas do país. Botswana tem apenas um programa para crianças com câncer e doenças do sangue. Com o transporte público suspenso e qualquer movimento fora de casa exigindo uma licença, garantir que o tratamento dos pacientes não fosse interrompido foi um feito enorme. Nossa assistente social e uma pessoa que orientasse o paciente trabalhou dia e noite para garantir que os pacientes tivessem as autorizações adequadas. A equipe médica em todo o país providenciou ambulâncias hospitalares ou outro meio de transporte para levar os pacientes até nós para tratamento. As distâncias que os indivíduos percorreram para que as crianças pudessem receber os cuidados necessários foi inspirador.
Um exemplo se destaca, um menino com tumor cerebral que mora a cerca de 965 km do hospital, desenvolveu vômitos e aumentou a frequência de convulsões. Por meio de ampla coordenação, ele foi trazido para a equipe de Global HOPE em Gaborone, onde poderíamos providenciar um exame cerebral e uma operação crucial coordenada por meio de várias unidades de saúde. Felizmente, agora ele está muito bem com a continuação do tratamento. O esforço necessário para obter o cuidado que ele precisava não pode ser representado em apenas algumas frases.
Agora que estamos nos estabelecendo em novas rotinas como resultado de uma pandemia, olhamos para o futuro. Os Leões locais já nos procuraram para nos apoiar de maneiras novas e inovadoras. Embora possamos não ter programas presenciais de conscientização sobre o câncer pediátrico, podemos fazer campanhas nas redes sociais. Podemos não ser capazes de oferecer eventos divertidos para os pacientes agora, mas podemos fornecer pacotes de cuidados inspiradores. Nós continuamos com essa parceria frutífera com Lions clubes em Botswana, agora em seu terceiro ano.
Muitas vezes me perguntam por que eu escolheria uma profissão como hematologia-oncologia pediátrica, a maioria das pessoas pensam que deve ser terrivelmente deprimente. O que as pessoas podem não perceber é que não há nada mais inspirador do que a tremenda resiliência de uma criança. As crianças sempre encontram maneiras de rir e sorrir, apesar da árdua jornada que enfrentam. Durante estes tempos sem precedentes de uma pandemia global, não devemos simplesmente sustentar. Vamos todos seguir o exemplo das crianças e nos concentrar em como podemos continuar a melhorar nossos esforços para diagnosticar e tratar das crianças com câncer e doenças do sangue na África em meio ao nosso novo normal.
Para saber mais sobre como a LCIF e a o Hospital Infantil do Texas, Global HOPE, fazem parceria para combater o câncer infantil na África subsaariana, visite lionsclubs.org/GlobalHOPE.
O Dr. Jeremy Slone é um hematologista-oncologista pediátrico do Hospital Infantil do Texas e da faculdade de medicina Baylor College of Medicine. Ele trabalha em Botsuana desde 2012, onde é diretor médico do programa da Global HOPE no Botswana-Baylor Children’s Clinical Centre of Excellence.